O que é câmbio?
Antes de abordar a alta do dólar, é preciso entender o conceito da taxa de câmbio. Câmbio é a relação de preços entre duas economias, tem o objetivo de facilitar as transações comerciais entre os países. Como qualquer problema econômico impacta o valor da moeda, por isso a taxa de câmbio é flexível.
Quais são os motivos que estão levando o dólar às alturas?
Para o professor de Economia da Universidade de Brasília, Flávio Basílio, a correção da valorização do real perante o mercado internacional deveria ter acontecido antes. “O que causa estranheza é a velocidade com que isso acontece e causa a volatilidade do real perante o mercado”, explica. O real estava valorizado com relação a todas as moedas e isso é ruim quando se analisa a balança comercial, trazer investimentos para o Brasil se torna mais difícil.
O fortalecimento da economia dos EUA e a crise política e financeira da Europa são problemas externos que estão pressionando o câmbio e causando a desvalorização do real. O dólar deve fugir ainda mais do Brasil porque os norte-americanos planejam subir, até a metade do ano, sua taxa de juros, atualmente em 0,25%. Isso pode fazer o dinheiro dos investidores render mais por lá do que aqui.
Para Basílio, resta saber se isso é um problema ou não. “Já havia uma necessidade de ajuste de câmbio, o problema real é a velocidade com que isso aconteceu, a volatilidade do câmbio, sim, é um problema, pois gera incerteza e afeta a credibilidade do mercado nacional”, completa. O economista explica que esse ajuste, apesar de importante, não garante o fortalecimento da economia brasileira, pois ainda há um reajuste a se fazer com relação a outras moedas.
Como os fatores externos afetam a cotação da moeda?
O economista Flávio Basílio explica que a valorização do dólar aconteceu frente a todas as moedas, devido a expectativa de aumento da taxa de juros nos EUA. Já a moeda brasileira precisava de uma correção, “o câmbio que tínhamos não era sustentável a longo prazo”, pontua.
As oscilações da cotação do dólar variam de acordo com a lei da oferta e da demanda - quanto maior a oferta da moeda americana, menor é sua cotação. Porém outros fatores podem causar influências nessa variação. O risco-país é um conceito utilizado para tentar definir o grau de instabilidade econômica, mostrando aos investidores qual é o perigo de se investir em um país. Quanto menor o índice de risco de um país, maior é o número de investidores estrangeiros, consequentemente mais dólares circulando no mercado daquele país.
O que o governo pode fazer para conter a instabilidade cambial?
O governo também pode exercer influência, quando interfere no mercado para estabilizar o dólar e deixar o real desvalorizado. Essa medida torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional e aumenta as exportações e investimentos, importantes para o país.
Basílio explica que, historicamente, as interferências do governo foram tardias. “Estamos observando uma repetição do que aconteceu em 1999, 2002 e 2003. Não se pode deixar a moeda nacional se valorizar tanto, pois quando ocorrem ajustes, eles acontecem muito rápido e geram instabilidade”, completa. Para Basílio, o Banco Central deve atuar de forma mais forte, para prevenir a apreciação. “A curto prazo, a valorização da moeda ajuda a conter a inflação, mas gera a volatilidade do mercado quando acontecem ajustes”, disse.
O que faz o mercado oscilar?
Basílio destaca que a política fiscal, o patamar de importações e exportações, a competitividade do mercado e o nível de investimentos internos também influenciam no fortalecimento da moeda.
Por que existem diferentes cotações?
Se você for comprar a moeda para viajar, certamente vai pagar um valor ainda maior do que vê em todos os noticiários. Isso porque, seja o dólar que define o valor de compras de produtos de outros países, ou dólar para quem vai viajar, as cotações são diferentes para várias operações. Os tipos de de dólar são: comercial, turismo e paralelo.
O dólar comercial é utilizado em transações no mercado financeiro, como importações e exportações. Já o dólar turismo é usado em compra de moeda para viagens. O dólar paralelo, como o nome diz, é o dólar usado em transações que não passam pelo controle do Banco Central. É considerado ilegal.
Eles têm valores diferentes, porque o comercial é cotado pelo mercado, mas o governo consegue influenciar comprando e vendendo a moeda norte-americana. Já o dólar turismo é mais caro, porque os bancos e agências pagam taxas, os custos da importação e somam ainda o que vão ganhar com as operações. Já o paralelo não tem nenhum tipo de controle.
Criado em 23/03/15 10h30 e atualizado em 23/03/15 11h28
Por Líria Jade Fonte:Portal EBC
O professor de economia de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, credita a “alta desmedida” do dólar ao receio de que o ajuste fiscal proposto pelo governo, de R$ 66 bilhões, não se concretize, o que poderia levar o país a perder seu grau de investimento e impactar a inflação. “Basicamente, eu resumiria essa disparada [do valor do dólar] como resultado do que a gente chama de aversão ao risco. A alta do dólar acaba refletindo essa maior aversão ao risco, esse medo de que as coisas fujam ao controle, e, então, o dólar parece ser um porto seguro diante disso”.
Segundo o economista da FGV, a alta mais acentuada da moeda americana nas últimas duas semanas está relacionada ao cenário político do país: manifestações nas ruas, divulgação da lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com nomes de parlamentares envolvidos em esquema de corrupção na Petrobras e crise entre poderes Executivo e Legislativo. “Tudo isso ajudou a formar um cenário muito mais turbulento, que gera a aversão ao risco. Depende muito de como os fatos vão se desenrolar em termos políticos para saber que impacto isso pode ter sob o câmbio. A questão política está em aberto”.
O economista Carlos Eduardo de Freitas, conselheiro presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF) e ex-diretor do Banco Central, explica que a alta do dólar tem uma vertente estrutural de realinhamento dos preços, reduzindo os custos de produção e aumentando a competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional. Mas ele também acredita que a desconfiança sobre a implementação do ajuste fiscal anunciado, depois do Congresso devolver a medida provisória que tratava do assunto, gerou uma pressão maior nos últimos dias.
“Faltam um discurso e um comportamento do governo que tragam de volta essa credibilidade que foi arranhada. Essa desconfiança está evoluindo para uma incerteza, que é quando não se consegue medir os riscos, e aí há uma saída de capital”, disse Freitas.
Criado em 14/03/15 10h38 e atualizado em 14/03/15 18h07
Por Danilo Macedo Edição:Jorge Wamburg Fonte:Agência Brasil
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