terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A pior forma de dar aumento do salário mínimo



Agora que todo mundo já está mais calmo, a poeira já assentou, eu vou dar a minha opinião sobre o salário mínimo.

A discussão era para saber se o aumento seria de 15 reais, ou se seria de 30 reais. Isso me fez lembrar de um outro texto, escrito por mim, recentemente, "Na riqueza e na pobreza".

Esse texto falava sobre duas histórias bem diferentes: O pensamento do rico e o pensamento do pobre. No pensamento do pobre, evidentemente, a visão de um mendigo cego que pede esmola.

Eu me lembrei do mendigo cego porque o salário mínimo tem muito a ver com o mendigo.

Pensem bem: 545,00 reais ou 600, 00, quinze ou trinta reais de esmola - Vocês entenderam, não é mesmo? - esmola...mendigo...tudo a ver.

Eu poderia dizer que entre uma esmola de 15,00 e a esmola de 30,00, não há muita diferença, mas, aí, eu me lembrei da história do mendigo, e achei melhor moderar as palavras.

Evidentemente que eu não estou satisfeito com o valor do salário. Eu fiz as contas aqui e deu cerca de 320 dólares, a 1,70 o dólar.

Eu me lembrei do governo de FHC: Fernando Henrique Cardoso prometeu um salário de 100 dólares, quando o "salário de fome" estava em 60,00 dólares.

FHC cumpriu a promessa, elevando o salário para 100 dólares, mas em fim de mandato, em meio a especulação e a imagem criada pela mídia de massa, houve a crise, e o salário voltou a 60,00 dólares.

Hoje o salário está em 320,00 dólares. Está na hora de sabermos se estamos melhor, ou se permanecemos na mesma situação.

Sem querer defender um lado, nem defender o outro, eu diria que estamos melhor, mas poderíamos ter melhorado mais.

Não podemos pregar uma volta ao antigo sistema, mas promover um novo, para o futuro, para isso é preciso quebrar o sistema bipartidário.

Quando o PT venceu, a antiga escrita foi apagada, mas, com o tempo, o bipartidarismo se fortaleceu novamente. As atitudes do STF, a ausência do STJ, caso Panamericano, Chico da Fossa, só para citar alguns exemplos, mostram que estamos muito próximos a um abismo muito maior do que pensamos, é preciso muita atenção agora.

O salário mínimo sempre foi um sistema de indexação da miséria, as pessoas não podem usar outro parâmetro de correção de preços, simplesmente porque não dá para descer mais o nível.

Se o salário mínimo sobe 3%, o aluguel sobe 3%, a alimentação sobe 3%, a mensalidade escolar sobe 3%, estamos no limite.

Há uma diferença entre os 60,00 dólares do antigo salário e o novo salário de 320,00 dólares, mas a Argentina já sentiu na pele, o que é a supervalorização em relação ao câmbio. O custo de vida subiu, durante algum tempo o país suportou, mas depois a Argentina entrou numa crise terrível.

O Governo declarou que o salário de 600,00 reais, daria uma despesa adicional de cerca de 300 milhões de reais aos cofres públicos - Eu me lembrei dos 4,5 bilhões do Panamericano e dos 15 bilhões do Chico da Fossa.

Eu me atrevo a afirmar que os desvios totais de dinheiro público, no Brasil, ultrapassem a 01 trilhão de reais ao ano. Esse desvio inclui lavagem, sonegação, corrupção e todo tipo de crime relacionado à política, tributação, administração, ou outras formas de crimes federais, estaduais, municipais.

Com um salário mínimo tão baixo, ninguém consegue pagar as contas, cresce a inadimplência, a taxa de juros; com uma carga de impostos tão alta, cresce a corrupção, subornos, lavagem, sonegação, etc. É tudo culpa do governo.

É claro que o salário mínimo está muito baixo - menos de um terço do valor aceitável, digno - mas não podemos nem imaginar um aumento. O Governo sempre pergunta de onde virá o dinheiro para pagar o salário, certamente viria desses financiamentos fraudulentos e suspeitos, viria dos crimes do colarinho branco.

Um crime comum é fácil descobrir e punir, mas crime financeiro é muito mais complexo. Pode provocar uma revolta momentânea, mas depois, tudo se acalma.

É por isso que é tão difícil aumentar o salário, precisamos parar de eleger políticos ricos.

No Paraná, a "fazenda milionária" derrubou os irmãos Dias; no Ceará, o "jatinho que eu comprei com o meu dinheiro" derrubou Jereissati.

É preciso que as pessoas entendam que é muito fácil prender um "laranja" como "Chico da Fossa", mas é muito difícil investigar uma pessoa muito rica.

Enquanto pessoas ricas forem eleitas, ficaremos sem saber os rumos que o nosso dinheiro terá, e o salário continuará sendo um salário de miséria.

É preciso esquecer os velhos coronéis, aqueles que sempre declaram um patrimônio entre um e três milhões de reais, mas tem muito mais que isso, votar nos novos candidatos, naqueles que sabem que a tecnologia é como uma luz sobre a corrupção, pode ver tudo.

Nos tempos em que trabalhei na área de segurança, aprendi com a polícia e com um empresário. Ele me disse: "Só há uma coisa que o ladrão teme, a luz. A idéia de saber que alguém está vendo ele roubar o apavora."