quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Loteria da vida



No Brasil é assim: vivemos no limite onde todo mundo tenta sobreviver, ao invés de criticar o sistema, criticam as pessoas.

Dizem que é feio mentir, prostituir, roubar, matar, etc., e que quem não tem dinheiro é porque não trabalhou, mas quando a situação aperta, não tem jeito, todos perdem a majestade.

A burguesia que deveria ser um exemplo para os mais pobres, são os primeiros a estampar as capas das revistas masculinas e filmes pornôs, além dos frequentes flagras de paparazzi.

Chegamos a um ponto em que a própria burguesia se tornou pobre, mas não aprendeu a ser, pior, demonstra a sua miséria e acredita que ainda está no paraíso dos ricos.

O problema começa quando essa situação se torna insuportável, quando o dinheiro não dá para pagar financiamentos e outras despesas e, mesmo assim, a pessoa acredita que deverá ser honesta.

A falta de dinheiro leva as pessoas às ruas, e não são só as pessoas sem estudo, sem educação, sem família, há muitas pessoas graduadas que não conseguiram controlar as despesas pessoais, foram enganadas por pessoas próximas ou por promessas de bancos e financeiras.

Para controlar a insatisfação das pessoas, as TVs veiculam prêmios de loterias ou de pessoas que eventualmente "venceram na vida" ou que fazem verdadeiros "milagres" para sobreviver. È bom que se diga que esses "milagres" só ocorrem com os afortunados que tem a sorte de sobreviver a todos os problemas que a vida possa lhes oferecer, como doenças, falta de alimentos, dinheiro, família, religião, transporte, segurança, etc.

Já houve casos de sem-terra, indígena, pedreiro e outros, que se deram bem na vida, dessa vez foi um mendigo de Curitiba, ex-modelo, que por causa das drogas acabou nas ruas. Raul Nunes da Silva teve a sorte de encontrar a radialista Indy Zanardo, que tirou sua foto e postou na Facebook, conseguindo um compartilhamento recorde de mais de vinte mil, logo no início.

O sucesso foi tanto que despertou a desconfiança dos usuários da rede e de outros internautas que souberam da história e não acreditaram que não fosse uma armação - está difícil acreditar em alguma coisa, numa sociedade  à base de aparências. Até a Madonna criou uma história parecida no início da carreira.

Mas não foi só isso, basta fazer uma pesquisa por mendigo modelo ou modelo mendigo, com algumas variações de pesquisa, para descobrir como a história foi publicada em todos os grandes portais da internet. Não daria para pagar esses grandes portais, nem mesmo uma top model conseguiria isso, a não ser que haja interesse desses portais em manter  o síndrome da loteria nas pessoas.

Qualquer teoria de manipulação social não seria a pior parte, já que, como eu disse, muitos internautas não engoliram a história, o problema é ainda maior.  O problema é se as mídias se tornarem preguiçosas e passarem a repetir as notícias sem nenhuma crítica ou reflexão, isso seria um grande problema.

Quantos mendigos tem no país e quantos mendigos tem a sorte de vencer na vida? Se você respondeu mil por um, saiba que essa era a perspectiva dos concursos públicos até pouco tempo; Se você respondeu 10.000 por um, bom, aí, já é uma questão de muita sorte, alguns deputados conseguem uma votação assim, depois de muita lábia - 20.000 miseráveis votam em um afortunado. Eu diria que a probalidade dos mendigos está bem pior que 1.000.000 por 1, isso numa visão mais otimista.

Esses números hipotéticos demonstram o quanto é difícil sair de uma situação dessas e como a mídia gosta de mostrar uma esperança, como se quisesse apagar a chama da indignação que arde no peito de uma pessoa pessoa que pensa. Os mesmos jornalistas que ajudam na divulgação dessas notícias, gabam-se de terem vencido na vida e de terem a sua própria quitinete no centro de São Paulo.

By Jânio

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